Interseções do populismo de extrema-direita com as transições energéticas rurais (in)justas em práticas comunicativas e socio-espaciais, em Portugal
O projeto exploratório JUSTENERGY - Interseções do populismo de extrema-direita com as transições energéticas rurais (in)justas em práticas comunicativas e socio-espaciais, em Portugal foi financiado por fundos nacionais através da FCT - Fundação para a Ciência e a Tecnologia, I.P. (EXPL/COM-CSS/1510/2021). A sua equipa foi composta por: Susana Batel (PI; CIS-Iscte), Ana Isabel Afonso (Co-PI; CRIA – NOVA FCSH); Rita Guerra (CIS-Iscte); Luís Silva (CRIA – NOVA FCSH); Andreia Valquaresma (CIS-Iscte); Maria Alba (CIS-Iscte).
Sumário
O principal objetivo do projeto JUSTENERGY foi o de explorar a relação entre a forma como a transição energética para as energias renováveis está a ser concretizada nos territórios rurais em Portugal – por exemplo, com a construção de mega centrais solares sem envolvimento das populações locais – e o seu impacto no apoio das comunidades afetadas a retórica populista de extrema-direita. Para isso, investigou num primeiro estudo a forma como a principal imprensa escrita em Portugal apresenta a transição para a energia verde e como estes discursos se relacionam com retórica populista de extrema-direita. Num segundo estudo analisou como a transição verde está a ser recebida nas comunidades dos territórios onde estão a ser construídas infraestruturas de geração de energias renováveis de larga escala, nomeadamente Graciosa e Castelo de Vide, territórios que registaram também uma maior presença do Chega, por forma de coligação governamental ou aumento de votos, respetivamente, nas últimas eleições. O projeto pretendeu assim propor recomendações para como os decisores políticos e os meios de comunicação social podem promover uma transição para a energia verde mais justa e inclusiva. Para além de divulgação dos principais resultados do projeto em órgãos de comunicação social (Público, Executive Digest, Rádio Graciosa) a equipa do projeto organizou diversos debates sobre os resultados destes dois estudos, ao longo do mês de novembro de 2023.
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Enquadramento
Face à intensificação das alterações climáticas, tem sido promovida a transição das energias fósseis para as energias renováveis pela União Europeia e por Portugal, implicando assim a aceleração da construção de infraestruturas energéticas em larga escala, como parques eólicos e centrais solares, especificamente em territórios rurais. Apesar de haver uma concordância generalizada em relação à transição energética para as renováveis, tem-se verificado cada vez mais uma resistência local à construção das infraestruturas de larga-escala associadas. Abordagens recentes e críticas das ciências sociais e humanas defendem que esta oposição pode estar relacionada com a contribuição destas infraestruturas para a reprodução de injustiças e desigualdades sociais e ambientais do paradigma energético anterior, tendo em conta que na maior parte dos casos, os projetos de energias renováveis são impostos e implementados de modo tecnocrata sem envolvimento adequado das comunidades locais. Neste sentido, cada vez mais tem sido defendida uma transição energética participada e justa transversalmente, que considere não só os impactos socioambientais globais, mas também os territoriais e psicossociais, das infraestruturas de energias renováveis.
Ao mesmo tempo, o aumento do populismo de extrema-direita por todo o mundo, e o modo como os seus discursos e retórica são apresentados e disseminados pela comunicação mediática, pode também ter consequências no combate às alterações climáticas. De facto, a comunicação social tem um papel determinante no modo como os problemas societais são representados na esfera pública. Adicionalmente, a investigação mostra que discursos populistas de extrema-direita tendem a fomentar negação e ceticismo em relação às alterações climáticas, e resistência face à transição energética. Contudo, são ainda poucos os estudos que exploram a relação entre os populismos de extrema-direita e a transição energética.
O recurso a molduras discursivas de extrema-direita e a retóricas populistas na comunicação social pode, portanto, moldar as ideias e práticas em relação à transição energética.
A retórica populista de extrema-direita tem sido definida pela investigação académica como simplista, provocatória e dicotómica, podendo ser compreendida ao longo de dois eixos – um horizontal que promove uma distinção grupal “nós” e “eles” com base em ideias nacionalistas, e em que "eles", na maior parte dos casos, são identificados como grupos minoritários e racializados, e “nós” o “povo puro” – ou “os portuguese de bem”; e um eixo vertical que promove uma separação entre “nós” – “o povo” - e a “elite corrupta” ou o “poder instaurado”.
Baseado neste conhecimento científico, o projeto JUSTENERGY pretendeu explorar potenciais relações entre o modo como a transição energética para as energias renováveis é apresentada nos principais meios de imprensa escrita portugueses, e como e se recorrem a discursos e retóricas populistas de extrema-direita; e o modo como as comunidades rurais experienciam, significam e se posicionam face a projetos de infraestruturas energéticas de larga escala nos seus territórios.
Abordagem e Resultados - Estudo 1
Abordagem e Resultados - Estudo 2
Conclusões
Implicações e Recomendações
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