Estudo destaca a resiliência psicológica no tratamento da dor crónica
- Pedro Simão Mendes
- 7 days ago
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Updated: 6 days ago
Um estudo recente realizado por investigadores da Universidade de Washington e do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa foi publicado na revista Pain Medicine. Esta investigação explorou a forma como cultivar a crença numa vida com um propósito, apesar dos desafios da dor crónica, pode promover melhorias ao nível psicológico.

“A dor crónica é um problema generalizado que tem o potencial de impactar negativamente o bem-estar e a qualidade de vida”, explica Alexandra Ferreira-Valente, investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte (CIS-Iscte). O estudo teve como objetivo explorar de que forma as crenças sobre ter uma vida com significado estão associadas a um melhor ajustamento em adultos com dor crónica.
A equipa de investigação realizou um questionário a uma amostra diversificada de 164 participantes com dor crónica. Avaliaram um conjunto de variáveis psicológicas, incluindo sintomas de perturbação de stress pós-traumático (PSPT), ansiedade, depressão, crenças pessoais e estratégias para lidar com a dor crónica e a sua interferência na vida quotidiana. Os resultados indicaram que a capacidade de encontrar um sentido para a vida, mesmo no meio da adversidade, estava associada a uma menor interferência da dor e a sintomas menos graves de PSPT, ansiedade e depressão. Isto reforça a ideia de que a promoção de um sentido de propósito é fundamental para o bem-estar emocional de uma pessoa, apesar das adversidades. As intervenções psicológicas fenomenológicas existenciais que se centram no significado e no sentido de objetivo, juntamente com os tratamentos físicos, podem ser um instrumento poderoso para este fim.
“Os nossos resultados revelaram que as pessoas que mantiveram uma forte crença na sua capacidade de viver com um significado, apesar da dor, apresentaram melhores níveis de funcionamento e resiliência”, explica Alexandra Ferreira-Valente. Segundo a investigadora, este resultado sugere que as crenças e atitudes pessoais podem servir como fatores críticos na gestão do impacto psicológico da doença crónica.
No que diz respeito às implicações mais abrangentes do estudo, a equipa de investigação salienta a necessidade de integrar a resiliência psicológica e a criação de significado nos planos de tratamento da dor crónica, uma vez que a compreensão de que se pode ter uma vida com significado apesar da dor bem como o reforço do sentido de propósito de uma pessoa podem levar a melhores abordagens terapêuticas. “Para isso, é necessária uma abordagem multidisciplinar nos serviços de saúde para a dor crónica”, conclui Alexandra Ferreira-Valente.
Para a equipa de investigação, estudos futuros devem centrar-se na exploração das relações causais entre os sistemas de crenças e os indicadores de saúde. A equipa de investigação era constituída por David E. Reed II (Universidade de Washington; VA Puget Sound Health Care), Melissa A. Day (Universidade de Washington; Universidade de Queensland), Alexandra Ferreira-Valente (CIS-Iscte) e Mark P. Jensen (Universidade de Washington), e o artigo pode ser consultado em: https://doi.org/10.1093/pm/pnae091
Texto escrito por Pedro Simão Mendes (Gestor de Comunicação de Ciência)