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Planeamento de ruas verdes em Portugal não se alinha com o envelhecimento ativo

  • Foto do escritor: Pedro Simão Mendes
    Pedro Simão Mendes
  • 25 de jun.
  • 3 min de leitura

Atualizado: 1 de jul.

Apesar dos impactos ambientais positivos que se têm observado com o desenvolvimento das ruas verdes, estudo realizado no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa alerta para o facto de frequentemente não incluírem elementos essenciais para as pessoas mais velhas, como pavimentos acessíveis, zonas de descanso ou medidas de segurança, levantando preocupações sobre inclusão social.

© 2024 Mariana Montalvão (GreenCity4Aging) | Iscte
© 2024 Mariana Montalvão (GreenCity4Aging) | Iscte

Um pouco por todo o mundo, têm vindo a ser desenvolvidas políticas de mobilidade ativa com o objetivo de reduzir a emissão de gases com efeito de estufa para mitigar o impacto das alterações climáticas. A criação de mais espaços verdes e de ciclovias são algumas dessas medidas. Contudo, um estudo realizado no Iscte alerta para a necessidade de o planeamento urbano considerar as políticas públicas de envelhecimento ativo.


Neste estudo, a equipa de investigação explorou a intersecção entre o planeamento urbano e a inclusão, focando-se em como as ruas verdes, fundamentalmente as que integram vegetação e mobilidade suave, podem apoiar a mobilidade e o bem-estar de adultos mais velhos. “O planeamento do desenho urbano das ruas verdes tem tido como premissa a mitigação das alterações climáticas e a promoção do bem-estar, vindo, por isso, a englobar o incremento em espaços verdes e de exercício físico, e a criação de ciclovias”, explica André Samora-Arvela, professor da Faculdade de Letras da Universidade do Porto e investigador integrado do Centro de Investigação em Ciências da Informação, Tecnologias e Arquitetura (ISTAR-Iscte), primeiro autor do estudo. “Neste estudo avaliámos o grau de alinhamento das políticas públicas de mobilidade ativa e de envelhecimento ativo a nível internacional, nacional e local que, neste caso, se refere à cidade de Lisboa”, esclarece o investigador. O objetivo foi diagnosticar em que medida as políticas de mobilidade ativa consagram o respeito pelas diretrizes das estratégicas de envelhecimento ativo.


Os resultados do estudo sugerem que embora as políticas internacionais e municipais enfatizem atualmente ambientes urbanos amigos das pessoas idosas e, as estratégias de envelhecimento ativo em Portugal permanecem desligadas das políticas de mobilidade ativa. “Em linha com o panorama internacional, os nossos resultados indicam que Portugal tem avançado na definição de políticas de mobilidade sustentável impulsionadas pelas metas climáticas” afirma Sara Eloy, arquiteta, professora na Universidade de Antuérpia e investigadora associada do ISTAR-Iscte. De acordo com esta análise, a mobilidade ativa (pedonal e ciclável) em Portugal parece ter resultado essencialmente da experiência e do estudo das políticas implementadas em Lisboa, exemplificando como a prática municipal pode influenciar a prática nacional. Contudo, em contraste com as políticas internacionais, as políticas de envelhecimento em Portugal afiguram ainda como desarticuladas das de mobilidade ativa.

 

Por que é importante considerar o envelhecimento ativo nas políticas de mobilidade e no planeamento urbano?


De acordo com Sibila Marques, psicóloga social, professora do Iscte e investigadora do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte), “incluir estratégias de envelhecimento ativo nas políticas de mobilidade é fundamental para promover cidades mais acessíveis, seguras e inclusivas para todas as pessoas”. Se o desenvolvimento de ruas não considera o ponto de vista das pessoas mais velhas, “corremos o risco de aumentar o seu isolamento social, diminuir a sua autonomia, reforçando desigualdades sociais e o idadismo”, alerta a investigadora. Mariana Montalvão, bolseira de investigação no CIS-Iscte, relembra ainda que um mau desenho de ruas pode “colocar em risco a segurança das pessoas mais velhas” dando como exemplo a calçada portuguesa, que, devido à falta de manutenção, constitui, muitas vezes, um perigo para pessoas de qualquer idade. Representando uma questão de justiça social e inclusão, estes e outros riscos podem comprometer a qualidade de vida dos idosos com potencial de aumento da pressão sobre os sistemas de saúde e de cuidados.


Para esta equipa de investigação, a análise realizada permite concluir que as ruas verdes e iniciativas relacionadas com a transição climática têm sido desenvolvidas principalmente ao nível municipal, mas frequentemente sem uma consistente abordagem participativa ou inclusiva. “Para criar cidades verdadeiramente inclusivas é essencial considerar também o ponto de vista das pessoas mais velhas através de, por exemplo, projetos participativos”, sugere e enfatiza Sibila Marques.


“Para serem bem-sucedidas, as políticas devem ser implementadas com todos e para todos”, pode ler-se na conclusão do artigo publicado. Este estudo foi realizado no âmbito do projeto GreenCity4Aging (REF. 2022.03478.PTDC), financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e coordenado por Sibila Marques e Sara Eloy.


Texto escrito por Pedro Simão Mendes (Gestor de Comunicação de Ciência)

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