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Dia Nacional dos Cuidadores Informais - "É essencial reduzir exigências na prestação de cuidados informais"

  • Foto do escritor: Pedro Simão Mendes
    Pedro Simão Mendes
  • há 1 dia
  • 3 min de leitura

Um estudo do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte), com a colaboração da Associação Nacional de Cuidadores Informais, analisou os fatores psicossociais associados à prestação de cuidados informais, destacando os seus impactos na saúde e bem-estar de quem cuida. Os resultados sublinham a necessidade de se implementarem medidas concretas que reduzam as exigências e reconheçam o papel fundamental destes/as cuidadores/as na sociedade.


© 2021 Kampus Productions | Pexels
© 2021 Kampus Productions | Pexels

Ângela Romão, investigadora do CIS-Iscte, explica que “o objetivo desta investigação foi avaliar os fatores psicossociais que caracterizam o ambiente de trabalho de cuidadores/as informais e compreender o seu impacto na sua saúde e bem-estar”. A investigadora destaca que cuidar de uma pessoa dependente impõe desafios significativos à saúde física e psicológica dos/as cuidadores/as informais. “Era essencial caracterizar o ambiente de trabalho das pessoas cuidadoras para compreender os desafios diários que enfrentam, a forma como se sentem reconhecidas e valorizadas e o tipo de apoio que recebem”, explica.


A equipa de investigação, que inclui a investigadora Isabel Correia (CIS-Iscte), aplicou uma das ferramentas mais amplamente utilizadas para avaliar riscos psicossociais em contextos laborais formais, o COPSOQ II. Segundo Isabel Correia, “este estudo é inovador pois analisa uma ampla gama de fatores psicossociais num contexto informal e muitas vezes invisível, como é o da prestação de cuidados informais”. Embora a prestação de cuidados informais não seja remunerada, tem sido cada vez mais reconhecida como uma forma crucial de trabalho. Além disso, partilha várias características com a atividade de profissionais de saúde: são trabalhos exigentes, com responsabilidades frequentemente complexas, imprevisíveis e envolvem um controlo limitado por parte de quem presta cuidados. Por isso, a adaptação daquela ferramenta ao contexto de cuidados informais permitiu avaliar diversos fatores psicossociais.


Os resultados do estudo revelam que, no contexto da prestação de cuidados informais, as pessoas cuidadoras enfrentam exigências muito elevadas, sobretudo de natureza cognitiva e emocional – por exemplo, dar apoio emocional à pessoa cuidada (frequentemente um familiar), lidar com altos níveis de stress e gerir o cansaço. Além disso, contam com poucos recursos, como tempo disponível, e sentem falta de reconhecimento e apoio. Têm também a perceção de serem tratadas com pouca justiça e respeito pela “liderança” – entendida aqui como o Estado Português – que consideram fraca e insuficiente no apoio às suas necessidades.


Analisando os dados, verificou-se que as exigências do trabalho de cuidados (i.e., uma carga de trabalho elevada e emocionalmente exigente, um ritmo intenso de trabalho e uma necessidade de atenção constante) representam um fator de risco para a saúde e bem-estar de cuidadores/as, enquanto a previsibilidade das tarefas (i.e., ser informado atempadamente sobre decisões importantes e sobre a melhor forma de realizar o trabalho), a transparência do papel desempenhado (i.e., saber o que é esperado de si e quais as suas responsabilidades) e a confiança vertical (i.e., uma relação de confiança no Estado Português), emergiram como recursos importantes.


É, ainda, de salientar que o estudo foi realizado no contexto da pandemia de COVID-19, onde dados prévios mostraram maior detrimento da saúde mental de cuidadores/as em comparação com não cuidadores/as. Contudo, a carga de trabalho sentida na prestação de cuidados informais foi semelhante a períodos anteriores. Estes dados parecem sugerir que as pessoas cuidadoras estão sob uma pressão constante. “Em termos de carga de trabalho e carga emocional, é como se quem cuida estivesse sempre em contexto de pandemia”, afirma Ângela Romão.


Para as investigadoras, estes resultados indicam que, para proteger a saúde e o bem-estar de quem cuida, é urgente investir em políticas e medidas que reduzam as exigências associadas à prestação de cuidados informais. Tais medidas são ainda mais relevantes no contexto português, já que de acordo com o PORDATA, em 2024 o índice de envelhecimento de Portugal foi o segundo mais alto da União Europeia, com 192.4 idosos por cada 100 jovens. De acordo com dados recentemente divulgados pelo Instituto da Segurança Social, mais de metade de cuidadores/as informais encontram-se em sobrecarga. “Responder às crescentes necessidades de cuidado de uma população envelhecida só será possível se se reconhecer e valorizar o papel insubstituível de milhares de cuidadores/as informais em Portugal”, conclui Ângela Romão.


A propósito do Dia Nacional do Cuidador Informal, assinalado em Portugal a 5 de novembro, Ângela Romão foi convidada a apresentar os resultados deste estudo na Conferência Inaugural do VII Encontro Nacional de Cuidadores Informais, pela Associação Nacional de Cuidadores Informais, e que decorre nesse dia no Cine-Teatro São João - Auditório Municipal do Entroncamento.


Texto escrito por Pedro Simão Mendes (Gestor de Comunicação de Ciência)


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