Uma equipa do Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) encontra-se a investigar o impacto do uso de emojis – ícones utilizados em mensagens escritas que podem demonstrar emoções, ações (por exemplo, 😀) – em função da proximidade do interlocutor que os envia, assim como da perceção quando este uso se dá em contextos de primeiras interações online ou até por parte de marcas. Os resultados destes estudos publicados em 2022 demonstram que as perceções sobre o uso de emojis são mais favoráveis entre jovens e entre quem os utiliza frequentemente, mas parece variar em função do contexto, sendo mais aceitáveis em contextos próximos (com amigos vs. com chefias) ou quando acompanham mensagens positivas (vs. negativas). A utilização de certos emojis também parece depender do contexto e da intenção associada a à sua utilização: por exemplo, numa primeira abordagem online, o uso de 😊 é mais associado a intenções de iniciar uma relação de amizade ou romântica, do que uma meramente sexual; em comparação, a utilização de 😏 tende a sinalizar melhor intenções de iniciar uma interação de cariz sexual.
Bernardo Cavalheiro, aluno de doutoramento no CIS-Iscte e cujo projeto foca precisamente o estudo de comunicação digital e utilização de emojis, explica a relevância destes estudos com base no crescente uso de emojis que se deve “à também crescente utilização de plataformas digitais e redes sociais”, sendo esta ainda “uma forma de comunicação pouco explorada na investigação”.
© 2022 Miguel Andrade
“Temos, aliás, outros estudos em curso que procuram identificar as razões pelas quais os emojis podem produzir, ou não, efeitos positivos na comunicação. Por exemplo, será uma questão de passarem a ideia de que os interlocutores que os enviam são mais ‘humanos’ na comunicação? Efetivamente, temos alguns dados que indicam que essa poderá ser uma das razões.”
Relativamente às marcas, acrescenta ainda que, num dos seus estudos, “os participantes consideraram o uso de emojis por parte de marcas como bastante adequado em anúncios ou em comentários nas redes sociais, e pouco adequado em situações problemáticas, como a recolha de um produto defeituoso, por exemplo. Uma possível explicação para estes dados será o facto de tipicamente utilizarmos emojis precisamente quando comunicamos em redes sociais, pelo que temos até a expectativa de que os outros (onde se incluem as marcas) o façam também. Por outro lado, quando interagimos com uma marca no sentido de resolvermos um problema de pós-venda, por exemplo, a utilização de emojis poderá não ser tão apropriada. Isto remete-nos novamente para a ideia da valência da situação, já que tipicamente estes contactos poderão ter um cariz mais negativo, já que “temos um problema para resolver”. Neste sentido, outros artigos desta equipa de investigação remetem de facto para a ideia de que a valência de comunicação é uma pista importante a ter em conta em contextos em que marcas ou prestadores de serviço pretendam recorrer a emojis.
A equipa de investigação salienta também que os resultados podem não ser generalizáveis para toda a população, já que a maior parte dos participantes eram jovens adultos, com elevado grau de escolaridade. Ainda assim, estes estudos abrem portas para futuras investigações que ajudarão a compreender novas formas de comunicação ainda pouco estudadas, como é o caso do uso de emojis.
Membros desta equipa de investigadores têm vindo a estudar aspetos relacionados com o uso de emojis há já alguns anos. Efetivamente, foi criada a Lisbon Emoji and Emoticon Database (LEED), uma base de dados de emojis e emoticons para serem utilizados em investigação. Num outro estudo, foram exploradas as motivações para o uso de emojis, tendo sido encontradas diferenças em função da idade e do género dos participantes, o que destaca o papel de fatores individuais nesta forma de comunicação mediada pela tecnologia, questões que estes estudos mais recentes também exploraram.
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