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Como é que as pessoas assexuais navegam a intimidade?

  • Foto do escritor: Pedro Simão Mendes
    Pedro Simão Mendes
  • há 23 horas
  • 3 min de leitura

Um estudo realizado no Centro de Investigação e Intervenção Social (CIS-Iscte) explorou os fatores associados às diferentes cognições, emoções e desejos reportados por pessoas do espetro da assexualidade (“a-spec” – termo mais inclusivo para ilustrar a diversidade de experiências e vivências). Os resultados deste estudo salientam a importância das diferenças individuais nas vivências das pessoas a-spec, algo que pode contribuir para promover uma sociedade mais informada e a elaboração de políticas mais inclusivas.


Hands Holding Flag - Asexual Symbol
© 2021 Katie Rainbow | Pexels

A assexualidade é tipicamente definida como a falta de atração sexual (por vezes, associada a uma repulsa sexual). Contudo, essa definição é simplista e limitada para descrever a multiplicidade de experiências vividas pelas pessoas da comunidade a-spec. Explorar e caracterizar essa pluralidade de vivências foi o mote para a investigação levada a cabo por Ana Catarina Carvalho, doutoranda em Psicologia no Iscte-Instituto Universitário de Lisboa, e David L. Rodrigues, investigador no CIS-Iscte e docente na ECSH-Iscte. O estudo foi recentemente publicado na revista Sexuality Research and Social Policy e parcialmente financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Refs.: 2023.01784.BD e 2020.00523.CEECIND).


Ana Catarina Carvalho refere que “nos últimos anos, tem havido uma crescente visibilidade da assexualidade, através de ativismo e de comunidades online como a Rede para a Visibilidade e Educação Assexual (AVEN, do inglês Asexual Visilibity and Education Network)”. Apesar disso, a assexualidade continua sub-representada na investigação.


“As experiências das pessoas a-spec são muito diversas”, afirma o investigador David L. Rodrigues. De acordo com a literatura, as vivências de pessoas a-spec incluem: pouca ou nenhuma atração sexual; sentir atração sexual apenas após o estabelecimento de ligações emocionais profundas; e até experienciar níveis flutuantes de atração sexual. Da mesma forma, algumas pessoas a-spec podem sentir pouca ou nenhuma atração romântica, enquanto outras podem sentir atração romântica (com ou sem atração sexual). “Estas diferenças e nuances relacionam-se a perceções, sentimentos e experiências distintas dentro da comunidade assexual. Por exemplo, na forma como as pessoas interpretam e navegam por relacionamentos sociais e afetivos”, afirma o investigador.


No estudo realizado, 456 pessoas de diversas nacionalidades que se identificaram como a-spec, responderam a diversas questões relacionadas com a sua identificação com a assexualidade, a intensidade das suas atrações sexuais e românticas, e acerca de estilos de vinculação (i.e., a forma como as pessoas experienciam a intimidade e dependência emocional). Foram também exploradas as suas experiências prévias relativamente a relações passadas, para melhor compreender as suas vivências e preferências.


De uma forma geral, os resultados indicaram uma forte identificação com a assexualidade. Pessoas com maior identificação com a assexualidade relataram ter menos experiência com parceiros românticos e sexuais. Paralelamente, pessoas que reportaram maior atração sexual e romântica reportaram ter tido mais relacionamentos. Ana Catarina Carvalho explica que “estes resultados salientam que algumas pessoas assexuais podem necessitar de relacionamentos para perceberem e aceitarem a sua falta de atração sexual, enquanto outras estão ainda a explorar os seus desejos e muitas vezes têm dificuldades em estabelecer relações por sentirem receio de assumir a sua identidade assexual a parceiros ou parceiras”. Quando analisados os padrões de vinculação, os dados indicam que um estilo de vinculação evitante estava associado a níveis mais elevados de identificação assexual e com menores níveis de atração sexual e romântica; foi ainda encontrada uma associação entre a vinculação ansiosa e a atração romântica e desejo por relações íntimas. A investigadora esclarece que os resultados observados vão de encontro a resultados prévios da literatura, acrescentando que “ter um vínculo afetivo evitante pode criar conflitos entre a identidade assexual e os sentimentos de atração romântica, levando algumas pessoas a temer a intimidade, evitar a proximidade e manter uma distância emocional com parceiros ou parceiras; paralelamente, um padrão de vinculação ansiosa nas pessoas assexuais pode estar associado ao facto de considerarem a possibilidade de ter relações íntimas no futuro e sentirem ansiedade devido a um medo de rejeição, que pode estar relacionado, ou não, com a incerteza do que a outra pessoa poderá esperar delas em termos da relação romântica e sexual”.


O estudo ressalva que as análises realizadas não estabelecem relações causais entre as medidas e que não foram considerados padrões de vinculação segura. Assim, a equipa de investigação alertam para não se assumir automaticamente que as pessoas a-spec tendem a evitar intimidade, sugerindo a necessidade de investigação adicional que explore estas questões ao longo do tempo. A equipa afirma no artigo que “os nossos resultados salientaram que a atração sexual e a atração romântica são experiências distintas que frequentemente coexistem (mas não necessariamente), dentro da comunidade”. Perceber que as pessoas a-spec têm experiências tão distintas “pode contribuir para melhorarmos o conhecimento da sociedade sobre esta comunidade, promovendo discursos de aceitação por parte dos media e do público em geral e, portanto, uma sociedade mais compreensiva e equitativa”, conclui a equipa do CIS-Iscte.


Texto escrito por Pedro Simão Mendes (Gestor de Comunicação de Ciência)

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